segunda-feira, 27 de junho de 2011

Compro o que é nosso?

Como se sabe, está a decorrer em Portugal a campanha "Compro o que é Nosso"

 como forma de incentivo ao consumo de produtos nacionais, com o objectivo final de estimular e fazer crescer a nossa economia, que como todos sabem anda pelas ruas da amargura. Até aqui tudo bem, totalmente de acordo. Mas o que me levou a trazer aqui este assunto foi a constatação da tremenda hipocrisia das grandes superfícies comerciais, hipermercados e afins, que apregoam aos quatro ventos, seja em grandes cartazes, até em outdoors, seja na rádio e tv, em slogans publicitários, que o lema deles é a defesa da produção nacional. Mas que grandes aldrabões! Estive a analisar em concreto a situação nas secções de fruta, andei de bloco em punho a tomar notas de origens e preços, devo ter ficado registada nas câmaras de vigilância :)

No hipermercado do elefante, que é o que eu frequento mais, sempre achei que a secção de frutas e legumes era o calcanhar de Aquiles. Mas nem tinha bem noção da situação verdadeira. Um dos slogans que agora podemos ler na secção da fruta é "A nossa bandeira é a produção local". A sério??? As únicas frutas portuguesas que lá encontrei foram laranjas (muito boas, do Algarve), maçãs e nectarinas. De resto, tudo proveniente do país vizinho
As cerejas, a minha fruta preferida, continuam a um preço escandaloso (as portuguesas). No entanto, sei de fonte segura que em certas regiões, não tão longe assim da capital, há largas centenas de árvores carregadinhas, e os donos não lhe dão vencimento, nem têm comprador. No entanto, as cerejas espanholas continuam muito, mas muito mais barata. Eu confesso que não entendo nada dos mecanismos de abastecimento dos supermercados, mas faz-me confusão como é que os espanhóis conseguem vender a fruta tão mais barata do que a nossa, apesar dos gastos com os transportes. Há aqui qualquer coisa que me escapa... 


Cerejas portuguesas, da Serra da Gardunha - €3,49/kg
Cerejas espanholas - €0,99 (cx de 1/2 kg) - €1,98/kg


 A meloa era espanhola, mas isso até já se tornou habitual.
Agora o que me deixou mesmo de queixo no chão foi verificar que até os melões e as melancias, uma produção tipicamente portuguesa, também falavam castelhano. Assim como as ameixas.
O supermercado PD diz "O melhor de Portugal está aqui". E garante que 70% dos hortícolas são de produção nacional. Mais uma vez pergunto: a sério? Não foi o que vi quando lá fui comprar fruta. Mais uma vez, exceptuando as laranjas, pouco mais vi da produção nacional. Ameixas e maçãs. Quanto ao resto, pêssegos, alperces, nêsperas, meloa, etc., etc. tudo de Espanha.
Nos do tio Belmiro a coisa não é diferente. Mais uma vez, as laranjas fazem as honras da casa. Algumas maçãs e nectarinas, e pouco mais.

Os pêssegos, que nós temos com fartura em quantidade e qualidade, também não se encontram nos citados espaços comerciais. Encontram-se agora por todo o lado aqueles pêssegos espalmados (paraguayo), que vêm ali do lado, claro. Pêssegos portugueses não encontrei em nenhum dos hiper aqui da zona. Alperces, espanhóis (horríveis, sem sabor).

Quer dizer, eu sinceramente até nem tenho nada contra os espanhóis, agora contra as invasões espanholas sim! Isto já é mania, pá! Ao longo da História aconteceu diversas vezes, agora que felizmente estamos em temos de paz, deparamo-nos com a invasão económica.Não há condições. 


Nos próximos dias vou fazer umas visitas às frutarias tradicionais, que me parece serem os únicos locais onde realmente posso comprar o que é nosso. E bom. Barato é que não garanto, apesar dos preços vergonhosos que muitas vezes são pagos ao produtor. Tenho muita pena. 

2 comentários:

Isabel disse...

Excelente post!
É incrível como os hiper e supermercados fazem publicidade enganosa impunemente. Deviam ser multados por cada mentira que pregam aos portugueses, aí talvez aprendessem a lição.
Bjs

Nina disse...

Oi Cláudia, sim, esse tema é mesmo complicado. Aqui as coisas produzidas no país, sao tbm mt mais caras que as importadas, isso antigamente, nao era asism nao é? Estranho mesmo...

Cláudia, fiquei mt sentida com teu comentário sobre o teu pai. Eu posso te entender, a gente nao compreende como eles podem ser tao distantes, nao é? Eu tbm precisei de mts anos e um bom choque (a notícia sobre o seu coma), pra entender que ausência nao significa necessariamente falta de amor. Tive sorte de ter entendido isso a tempo. Te desejo coragem pra encarar essas coisas ,pra resolver essas pendências, e com relacao ao pai da tua filha, que ela entenda que o pai é somente um pouco diferente da mae... sabe, isso é uma coisa que nós, como maes, devemos lutar mt, tentar nunca passar uma imagem ruim do pai. Isso dói mt nos filhos. Em mim doeu demais.

Um bj