Autumn Leaves por David Wagner
Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente em mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim:
“Já ela é velha! Como o tempo passa! ...”
Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio de oiro que esvoaça!
Deixem correr a vida até o fim!
Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente ...
Já murmuro orações ... falo sozinha ...
E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente,
Como se fosse um bando de netinhos ...
Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"
Olharem bem de frente em mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim:
“Já ela é velha! Como o tempo passa! ...”
Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio de oiro que esvoaça!
Deixem correr a vida até o fim!
Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente ...
Já murmuro orações ... falo sozinha ...
E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente,
Como se fosse um bando de netinhos ...
Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"
Chegados agora à melhor idade, expressão que de certa maneira pode quase ser considerada um eufemismo para velhice, pode suceder o mesmo. Há pessoas na casa dos vinte ou dos trinta que são tão velhas, e no entanto há outras, com setenta ou oitenta, que transbordam jovialidade. Tudo depende da personalidade, dos genes, das circunstâncias da vida, da maneira como se encara a vida, do otimismo ou da falta dele, etc.
A autora do poema acima morreu com 36 anos, não chegou portanto a sentir no seu corpo a passagem dos anos que lhe permitisse chegar à velhice. No entanto, sentia-se velha, e sentia que os outros a viam como uma velha. Aqui trata-se de um caso extremo, de uma pessoa imensamente amargurada, mas quantos de nós, em certas alturas da vida, não nos sentimos já velhos, apesar de supostamente ainda não termos idade para isso? Pelos menos eu já me senti algumas vezes, tanto física como mentalmente. É claro que tento combater esses sentimentos, mas por vezes o cansaço, físico ou mental, é tão grande, que me faz sentir uma autêntica velhinha.
Mas voltando à melhor idade. É claro que a chamada terceira idade pode ser a melhor. Pelo acumular de conhecimentos, de experiências, de vivências. Pelas viagens feitas, pelas pessoas que connosco conviveram e convivem, pelos aniversários vividos, pelos Natais, por ver mais uma Primavera e mais um Outono, folhas que caem e folhas que voltam a nascer, ano após ano, tudo isso dá uma grande bagagem que se pode usar da melhor forma quando se chega à idade de ouro.
É muito bom quando as pessoas conseguem chegar a essa idade com saúde e na plena posse das suas faculdades intelectuais. É muito bom que as famílias respeitem e acarinhem os mais velhos, até porque eles são uma fonte de saber e de experiências que é importante partilhar com os mais novos. Infelizmente nem sempre é assim. Quantas e quantas pessoas dedicam as suas vidas a cuidar dos outros, e quando ficam debilitadas e perdem capacidades, são atiradas para os lares da terceira idade? Que muitas vezes não são mais que meros depósitos de corpos inválidos que ali estão à espera da partida? Isso é muito triste. Com certeza que existem locais onde as pessoas idosas são muito bem tratadas, mas normalmente isso implica o pagamento de uma mensalidade que só uma muito pequena parte da população tem capacidade para suportar.
Numa sociedade ideal, os idosos deveriam permanecer no seio das suas famílias. No entanto, há casos em que as pessoas pura e simplesmente não têm disponibilidade de tempo para cuidarem dos seus idosos a tempo inteiro, mas também acontece, muitas vezes, que as pessoas não estão para isso, não querem ter esse fardo. Esquecem-se tão rapidamente que foram cuidados pelos seus pais na sua infância, que eram totalmente dependentes deles, que fizeram muitos chichis e cocós nas fraldas, e que alguém lhes limpou muitas vezes os rabinhos. Acontece é que a nossa sociedade vê um rabinho de bebé com uma coisinha muito linda (quantas vezes não ouvimos dizer "que pele tão suave, parece o rabinho de um bebé), mas quando passam os anos, ele torna-se numa coisa considerada feia e repugnante. Enquanto esta mentalidade não mudar, e os idosos não forem vistos e tratados com o respeito que merecem, vamos continuar a ver muitos deles naqueles lugares degradantes, muitas vezes em situações totalmente impróprias para um ser humano.
Bom, mas para não terminar numa onda de baixo astral, sempre vou dizendo que há certas coisas que podemos (e devemos) ir fazendo ao longo da vida para tentar assegurar uma velhice o mais saudável possível. Começando pelos cuidados com a alimentação, passando por manter sempre actividades que mantenham a mente ocupada, assim como actividades físicas, caminhadas ao ar livre, à beira-mar, no campo ou em parques onde o ar seja puro, tudo isto podem ser contributos para se chegar com qualidade de vida à melhor idade.
13 comentários:
O texto da autora é carregado de muito desânimo, de falta de alegria de viver. É um lembrete para não nos deixarmos tombar em depressão pelos sofrimentos. Por mais que sejamos otimistas, é bom quando as pessoas não olham só para o próprio umbigo, sem se importar com o que anda acontecendo com nossos idosos, por exemplo.
Como será que chegaremos lá? Teremos os cuidados necessários ou que julgamos ser merecedores? É uma boa reflexão.
Pensar sobre isso deve dar-nos impulso para não deixar que o desânimo tome conta. A vida é maravilhosa! A qualidade dela depende muito de nós mesmos.
Vamos plantar?
Obrigada por estar conosco mais uma vez, Cláudia!
Que não sejamos como a autora, né? Vamos reagir, buscar, nos conservar cabeça e corpo bem...beijos,chica
Muito bem lembrado, Claudia,acerca dos disparates que a chamada terceira idade pode sofrer.Claro que desejamos que nessa fase estejamos com saúde e capacidades plenas para desfrutarmos as belezas do viver, porém o alerta dado é verdadeiro e importante que permaneça aceso nas mentes e corações de todos em qualquer idade.
Tua reflexão traz consciência á blogagem.
Desejo que para todas nós, a melhor idade comece a cada manhã e não termine nunca.
Beijokas,
Calu
É necessário pensar no papel que o idoso representou na nossa sociedade em outras épocas, o papel de conselheiro, de sábio, ocupando uma posição relevante na sociedade, sendo respeitado por todos, principalmente pelos mais novos.
Acho importantíssimo que esse papel volte a ser respeitado e que as pessoas quando fazem 60/70 anos se sintam realmente a chegar à melhor idade :)
Como seremos nós? Duas velhinhas amiguinhas a andar de braço dado na rua?! Espero que sim :)
Olá, amiga
Desejo-lhe que a encontre neste mês assim:
"...um amanhecer colhido na luz do teu olhar,
orvalhado de emoções vividas". (Meliss)
Querida, 60 anos pode ser um marco... mas pode refletir imaturidade como vc bem disse...
Gostei muito do seu post e compactou com a síntese das suas opiniões...
A gente pode sim lutar contra a maré... Eu sei bem o que é isso...
Esse discorrer seu sobre as coisas boas da Melhor Idade foi-me familiar...
Tomara que vc seja feliz nela... como eu estou...
No dia 22, tem festa no meu blog que fará 2 anos... vou esperar vc, com muito carinho...
A nossa Blogagem Coletiva é: O QUE É ESPIRITUALIDADE PARA MIM???
Participe como puder... seja muito bem vinda!!!
Mesmo que uma lágrima brote como o orvalho em nossa face nesse momento...
Confiemos que Deus tem toda a proteção da nossa vida...
Espero vc no próximo mês...
Bjs de paz
http://espiritual-idade.blogspot.com/
Penso que os cuidados básicos para uma ótima maturidade, é fazer o que se gosta , cantar, rir e estar com a família e os amigos.Isso aprendi a pouco tempo!!!Infelizmente os Lares de Idosos estão cheios e de pessoas lúcidas, que sentem e sofrem, pois foram deixados ali, pois ninguém tem paciência, mas esquecem que um dia serão idosos também...
Paz e bem
eu to me preparando! linda sua postagem! quando puder da uma espiadinha na minha participação:
http://anacristinap.blogspot.com/2011/08/blogagem-coletiva-fases-da-vida-melhor.html
bjo brigadu
Concordo mesmo contigo, Claudia.
Pois vejo uma quantidade enorme de pessoas entrando na terceira idade sem se preocuparem com esses detalhes, aí vão se distanciando cada vez mais das outras gerações.
Uma coisa também que não deve ser relegada é continuar se informando, querer aprender coisas novas, fazer um trabalho voluntário e alguma coisa com as mãos. Dizem que o trabalho artesanal é excelente para afastar o Alzheimer e a depressão.
um beijo grande, carioca
Querida Claudia,
interpretar a forma como a sociedade de hoje olha seus velhos é a mesma forma como se olha a si mesma. Ou seja, pessoas que têm pavor de envelhecer, afastam os seus ascendentes velhotes para que não os lembrem do futuro que os espera.
"Esconder" os idosos no Lar é aplicar uma cosmética à sociedade. Quem é que quer ver um apresentador de televisão velho? Lembro-me precisamente do tempo em que, por ex, o boletim metereológico passou a ter "As meninas da Metereologia!". Quando antes eram pessoas conhecedoras do que estávam a dizer. Mas como tudo o que é dito pode ser escrito, mais vale colocar lá uma menina gira com seios a saltar da camisola e pernas ao léu, a ler o que o metoriologista de 50 anos escreve.
É a luta de gerações que leva as pessoas a temerem a 3ªidade. Os jovens querem o lugar dos velhos, e convencem-os que seu prazo de validade acabou!
Sensacional tua participação.
Grandes tiradas filosoficas!
Beijinhos.
Rute
Oi, Cláudia, vamos apenas viver e buscarmos a felicidade seja em que tempo for. Beijos.
Cláudia, vou deixar o link da blogagem coletiva adolescência aí você vai entender porque fui avó aos 40 anos. Se quiseres ler aqui está:
http://artelivrevimaje.blogspot.com/2011/05/blogagem-coletiva-adolescencia.html#links
Olá, Cláudia!O teu texto faz-nos reflectir por aquilo que nos espera e a sociedade está cada vez mais a afastar-se do modelo familiar que vivíamos antigamente, em que todas as gerações conviviam pacificamente. Hoje em dia temos melhores condições para chegarmos à idades mais avançadas, mas ao mesmo tempo a juventude é muito valorizada, penso que espiritualmente a sociedade não está preparada para "envelhecer" com dignidade. Se por um lado não tratamos melhor os mais velhos, por outro, muitas vezes, são os próprios que não se enquadram na serenidade que deveriam ter, é muito complicado, mas penso que só há solução se o egoísmo for deixado de parte e por ambas as partes!
Gostei demais do teu texto, mais uma faceta para reflectir!
Beijinhos
Demorei, mas vim ler sua participação!
"Velho" aos 20, "jovem" aos 60, é perfeitamente possível !
E quando entendemos que cada um é cada um, fica mais fácil percebermos as diversas nuances da vida, em cada pessoa.
Beijo
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