quinta-feira, 16 de julho de 2009

Comércio Justo? (Continuação...)


Como o post anterior foi muito pequeno, vai ter continuação... :)

Começo por dar a minha opinião muito pessoal. Quando tomei conhecimento deste tipo de comércio, e confesso que sem aprofundar muito o assunto, a ideia pareceu-me boa e efectivamente justa, uma vez que se dizia (e diz) que, desta forma, os (pequenos) produtores recebem o preço justo pelo seu trabalho.


Claro que isto tudo é muito bonito em teoria, mas a justiça no comércio de facto é um assunto que precisa de uma acção a nível internacional.

Ainda ontem houve uma grande manifestação de produtores de arroz em Alcácer do Sal (Alentejo, Portugal, Hemisfério Norte), precisamente queixando-se do baixo preço que recebem pela sua produção, comparativamente ao preço a que depois o arroz chega ao consumidor.

«Alcácer do Sal: Produtores de arroz em protesto contra preços impostos
15-jul-2009
Cerca de uma centena de agricultores iniciaram cerca das 10:00 de hoje, junto à zona agrícola de Alcácer do Sal, uma marcha lenta em protesto contra os preços impostos aos produtores de arroz e a nova lei do arrendamento rural. A Confederação Nacional de Agricultura estima que o preço do arroz no produtor deverá sofrer este ano uma quebra de 30 por cento em relação ao ano passado, disse à agência Lusa o dirigente João Dinis. Este dirigente da CNA explicou que "os preços impostos pelas grandes superfícies comerciais estão a asfixiar os produtores, ao mesmo tempo que o mercado português está a ser invadido por arroz importado". Os agricultores iniciaram a concentração às 09:00 e cerca de uma hora depois teve início a marcha lenta de 20 quilómetros de uma caravana de tractores e outros veículos agrícolas em direcção à zona agrária de Grândola, onde deverá terminar o protesto
. » (rádio Diana FM)


Parece-me é que é preciso haver normas internacionais rígidas, mas tb as políticas de cada país têm que ser vocacionadas para a defesa da tal justiça.

Entretanto, continuando nas minhas pesquisas, deixo aqui mais um link, para quem estiver interessado em conhecer melhor este assunto. Não pretendo influenciar ninguém, apenas sugerir que reflictam sobre os prós e contras.

O Comércio Justo continua a ser-nos apresentado como uma forma de contribuirmos para que os produtores de países mais pobres recebam uma remuneração justa pelo seu trabalho. Mas o que é facto é que não devia ser o consumidor em geral a ter que pagar um preço mais alto por um produto que não chega a ter a certeza se na realidade foi comercializado com justiça.

Enfim, o assunto é demasiado complexo.

A maior parte dos textos sobre este assunto dão-nos uma ideia muito positiva deste tipo de comércio. Ao ler este texto (um mero exemplo de entre muitos), tirado do site da Associação Cores do Globo, fica-se com a convicção de que se trata de algo válido:

«O Comércio Justo é definido pela News! [a Rede Europeia de Lojas de Comércio Justo] como:
«uma parceria entre produtores e consumidores que trabalham para ultrapassar as dificuldades enfrentadas pelos primeiros, para aumentar o seu acesso ao mercado e para promover o processo de desenvolvimento sustentado.
O Comércio Justo procura criar os meios e oportunidades para melhorar as condições de vida e de trabalho dos produtores, especialmente os pequenos produtores desfavorecidos. A sua missão é a de promover a equidade social, a protecção do ambiente e a segurança económica através do comércio e da promoção de campanhas de consciencialização
».

«A associação Cores do Globo é uma ONGD que trabalha na promoção de uma alternativa. O Comércio Justo, nascido nos corredores da ONU nos anos 60, estabelece um sistema mais equitativo, regulado e transparente de trocas comerciais, que permite hoje a milhões de pessoas nos países do Sul viver em condições dignas e ter condições efectivas de desenvolvimento.
Este movimento baseia-se na ideia de que África, a América do Sul e a Ásia não precisam de caridade. Precisam de justiça e de respeito. O comércio justo não dá o peixe. A força do movimento não resulta de quaisquer subsídios, mas sim do esforço incansável de milhares de voluntários que lutam diariamente pela causa e dos actos de milhões de pessoas que, em todo o mundo, consomem produtos do comércio justo
.»


Esta questão da caridade para mim é muito importante. Eu, quando adquiri alguns produtos, não foi com nenhuma intenção de caridade ou de dar esmola. Foi com a pura convicção que estava a contribuir para algo consistente e útil. Agora, depois de ter tido acesso a mais informações, já me parece que de facto, por um lado, nunca podemos ter a certeza de estar a contribuir com a nossa compra para uma melhoria efectiva das condições de vida desses pequenos produtores; por outro lado, estou convicta também de que a solução terá que passar por medidas que impeçam que os pequenos agricultores ou artesãos recebam uma bagatela pelo produto do seu trabalho, sem que tenha que ser o consumidor a pagar um preço mais elevado por determinado produto para suprir essa falha.

Bom, a conversa já vai longa. Deixo-vos apenas (com a devida permissão) umas palavras da Cláudia, que como alguns sabem é bastante empenhada em questões sociais. Espero que toda esta informação leve a uma reflexão consciente.

«... comércio justo é a tradução de duas coisas diferentes: fair trade e trade justice.

Fair trade é um esforço "bonzinho" mas até o momento inútil que é defendido por alguns grupos que defendem que se deve pagar um valor maior, teoricamente mais justo (o que é justo sendo muito vago) por produtos agrícolas para compensar a loucura do mercado de commodities.

trade justice, que eu defendo ativamente, é a reforma das regras do comércio internacional na esfera da Organização Mundial do Comércio de modo a conceder mais poder para os países exportadores de commodities agrícolas.

Fair trade é o esforço feito por algumas almas caridosas dos países ricos para ajudar alguns produtores dos países pobres. Fair trade é esmola, não serve e não muda nada. Eles pedem para você pagar mais porque eles dizem que assim é mais justo. Sendo o justo auditado por empresas européias e empregando mais recursos em burocracia do que em produtos.

Trade justice é um movimento pela mudança das regras injustas estabelecidas pelos países ricos (diga-se EU e EUA) para explorar cruelmente os países pobres. Brasil, India e China lideram os países em desenvolvimento nos negociações pela reforma do comércio, mais conhecida como Doha Round


Cláudia, agradeço os seus esclarecimentos.

Eu vou continuar a estudar este assunto, que me desperta bastante interesse (nota-se, não é?).

Prometo não fazer mais nenhuma postagem gigantesca. Se tiver tempo, logo trago uns Miminhos de Café, para desanuviar... :)


Olha que coisa mais linda! Pena que os blogs não tenham cheiro...


2 comentários:

Heloísa Sérvulo da Cunha disse...

Cláudia,
Esse é um tema importantíssimo, e que gera muita polêmica.
Com certeza, o ideal é a mudança de regras do comércio internacional, e muita pressão deve ser feita para que seja obtido um bom resultado.
Mas enquanto isso não chega, acho que podemos tentar alguma coisa no plano do comércio justo.
"Mutatis mutandi" é mais ou menos como a questão da fome. Não adianta dar um prato de comida, mas enquanto não se resolve a questão, deve-se tentar evitar que pessoas ao nosso lado passem fome.
E´uma questão muito difícil.
Beijos.

Claudia disse...

Claudia,

Ótimo texto. Você passou muito bem a complexidade do assunto.

Concordo com a Heloísa, enquanto não se consegue a situação ideal vai-se comendo pelas beiradas. Ou seja, com o fair trade tenta-se compensar as injustas regras do comércio internacional.

O problema é que num mundo em crise financeira não dá para contar que os consumidores vão aceitar pagar mais para ajudar uns poucos produtores, algo que não resolve a vida de ninguém. O tal comercio justo (fair trade) é muito vulnerável...

Espero os miminhos....

Beijos,

Claudia