sexta-feira, 15 de abril de 2011

Memórias da Infância - BCFV

HÁ UM MÊS ATRÁS, com muita pena minha, e por andar numa fase de MUITO trabalho, não tive oportunidade de participar na primeira publicação da Blogagem Colectiva Fases da Vida 
 organizada pelas meninas
Rute
Orvalho do Céu  
Gina

A primeira etapa foi o Nascimento, e naturalmente a segunda é a Infância.  
Normalmente associa-se a infância à alegria, à "vontade de rir, pular, brincar", como lembrou a Rute no texto que escreveu com algumas sugestões para abordar esta fase. É verdade, infância deve ser sinónimo de alegria, e ainda bem que é assim. Ao recordar a infância, lamento que a minha memória não seja mais "eficaz", porque não tenho lembranças de mim muito pequena. A minha lembrança mais antiga situa-se já nos 7 anos, quando andava na 2ª classe. Lembro-me perfeitamente do meu professor, que foi o mesmo na 2ª, terceira e 4ª classes,  mas não tenho a mais pequena ideia da professora da primeira classe. Será estranho? Não sei, talvez. Às vezes oiço pessoas contarem histórias de que supostamente se lembram, com 3, 4 anos... eu fico sempre espantada com isso, que raio de memória a minha. :)

 Felizmente existem as fotografias, e tenho muitas de bebé e criança pequena, mas não me recordo de nenhuma situação, nem sequer do primeiro dia de aulas, de que tanta gente fala... apagão total! 
Imagino-me em algumas histórias que a minha mãe conta, mas propriamente lembrar-me, isso não.

 Ao reler o texto que a Rute escreveu a apresentar o tema «Infância», fiquei com um bocadinho de medo de mexer num certo armário, medo que lá bem escondidinho atrás dos casacos e vestidos, pudesse espreitar algum  fantasma... mas decidi seguir o seu conselho, e colocar as sensações em primeiro plano!



Por exemplo, esta foto, da qual eu gosto muito, por outro lado assusta-me, porque vejo nela medo e insegurança, é uma foto que me seduz e por outro lado me perturba um pouco, não gosto de me rever naqueles olhos assustados, naquele meio-sorriso... e no entanto às vezes essa menina assustada reaparece, e continua com medo. Porquê?


Por muito que tente, não consigo dissociar a minha infância da imagem de uma pessoa que esteve sempre presente, a par dos meus pais e do "avô" João. Era a minha madrinha (e logo madrinha, uma figura que deve ser protectora), uma mulherzinha azeda e má, que infernizou a vida da minha mãe, e por consequência a minha. Esta criatura era patroa da minha mãe, e todas as memórias que tenho dela são de uma pessoa cruel, fria e desumana. As minhas memórias, junto com as histórias que a minha mãe não se cansa de contar, fazem com que essa pessoa se tenha tornado uma verdadeira assombração. A minha mãe, infelizmente, nunca se conseguiu libertar do ódio por essa senhora, o que só lhe faz mal (muito mal), tanto física como psicologicamente. Eu já lhe perdoei (acho eu, pelo menos tentei...) mas, como diz o ditado, "forgive but not forget". Já o "avô" João, o marido dela, era maravilhoso, um senhor muito querido, que até ficava contente quando eu brincava com ele, "penteando-lhe" a careca. A minha mãe ralhava comigo, e ele dizia "deixa lá a menina". Tadinho do avô João, mereceu o Céu só por aturar aquele megera. Ela, pelo contrário, aproveitava cada pretexto para atormentar todos ao seu redor, e algumas vezes eu "apanhei" por ela atazanar a cabeça à minha mãe, pondo-lhe os nervos em franja, até ao limite. 



Mas agora chega, já estou a ficar mal-disposta de pensar nisso, que tal passar para a parte boa da minha infância? :)

Recordo muitas coisas boas, como a minha forte amizade com a Fatinha, que é a menina mais alta na foto do lado direito (tão fofinhas, de mãos dadas...). Éramos vizinhas e brincámos muito, durante pelo menos uns 5 ou 6 anos. Infelizmente hoje em dia não temos contacto, mas ainda não perdi a esperança de o retomar.



Recordo com um sorriso as brincadeiras nas escadas na Capela, com a Fatinha e a Ana (minha amiga até hoje), quando ainda se podia brincar "na rua" em segurança (embora com a supervisão dos pais da Fatinha, que tinham um "lugar" de fruta quase ao lado da Capela, e da minha mãe, pois morávamos em frente).
Aqui eu e a Ana (amigas há quase 40 anos, credo!!!), no Carnaval. Que figurinha!:)


Depois veio a minha irmã, que foi sem dúvida a GRANDE alegria da minha infância. Com ela tudo ganhou um novo sentido, foi (e é) um amor muito grande, veio trazer uma luz que a minha infância não tinha, aquela "coisinha linda" foi um grande motivo de felicidade!
No dia do baptizado da minha irmã, tinha eu 8 anos.

E quando é que acaba a infância? Naquele tempo ainda não se falava em pré-adolescência, mas aqui já era uma fase de transição. Já estava a ficar grandinha, andava no ciclo preparatório, em breve iria para o Liceu.
Com 11 anos. Adoro a camisola! :))

Adeus, infância, olá adolescência. 



Mas a verdade é que a criança permanece dentro de nós, e isso é muito bom, sejam quais forem as circunstâncias. Mal daqueles que deixaram totalmente de ser crianças. Quem é que não tem vontade de rebolar por uma encosta verdejante? Pelo menos eu tenho, e esse foi um dos sonhos mais bonitos que já tive, acordei e tive tanta pena que não fosse verdade. Foi mesmo bom, rebolar por uma encosta macia e fresca!

E escrever este texto também foi muito bom, sinto-me liberta!
Obrigada, Rute.

21 comentários:

RUTE disse...

Que texto delicioso :)
Adorei mesmo e revi-me em algumas partes.
Especialmente no inicio quando dizes que só tens memoria de ti lá pelos 7 anos. Eu também pouco me lembro de mim antes dessa idade. O que sei foi-me contado ou então está escrito, como naquele relatório da 1ºclasse.
De facto a tua 1ªfoto é de algum medo e insegurança. Tão fofinho o teu pequeno rosto. Dá vontade de abraçar essa menininha e de proteger :)
Obrigada por este lindo momento!
Adorei. Estou com um sorriso largo, ternurento e agradecido.
Mil beijinhos,
Rute

Flora Maria disse...

Você tem o lindo nome da minha filha, Cláudia !

Ao contrário de você eu tenho lembranças bem mais antigas, lembrando muito bem dos meus 3 anos e até anterior !

Essas lembranças, tentar entender o que está por trás desse olharzinho preocupado, do sorriso contido, fazem que consigamos perceber o adulto que somos hoje.

Beijo

Blog da Pink disse...

Gostei muito das suas lembranças ou da falta delas ! Eu me lembro de coisas boas e ruins. As boas vivo relembrando e as ruins procuro esquecer e pensar que talvez fossem ruins apenas na minha cabeça e que na realidade foram coisas normais da vida. O relacionamento com minha irmã foi difícil quando eu nasci e ela já tinha 10 anos, felizmente agora é ótimo, com pequenas variações...
O mais importante é que você fez um relato sincero e emocionante ! As fotos são preciosas !
Beijos
Laís

Gina disse...

Realmente, o olhar transmite muito do que vai em nossa alma, mas as coisas não muito boas do passado devem ficar por lá.
Perdoar é algo difícil, mas, ao mesmo tempo, uma libertação.
Muito fofinhas você e suas amigas.
Esse resgate da infância lhe fez bem e é isso que desejamos nesse dia.
Grata pela participação!
Bjs.

orvalho do ceu disse...

Olá, querida

"Então ficaram todas as crianças a sua INFÂNCIA a passar seus anéis azuis de orvalho".

Menina!!! Devemos ter uma idade bem parecida.. pois minha memória anda como a sua...
Meus filhos se lembram de tudinho (um já com quase 40)...
Mas, fazer o quê??
Lendo o seu post, fiquei deslumbrada com os mosaicos e com a camisolinha maravilhosa do batizado da sua irmã... que riqueza!!!
Tempos bons o que nós vivemos sem tanto perigo e podendo aproveitar mais os encantos infantis!!!
Vc o descreveu com riqueza de detalhes... Lindo!!!

Hoje, o meu desejo de paz e alegria é para vcs que:

"...estendem o seu conceito
de vida,
e a veem na gota de orvalho".
(Lice)

Obrigada pela sua linda participação...

Orvalho do Céu é uma “Chuva de Néctar da Verdade”... ou Palavras de Deus...

É isso que lhe desejo nesse tempo que estamos entrando...
Uma Abençoada Semana Santa e uma Páscoa extremamente feliz!!!
Bjs de paz e achocolatados

Nina disse...

Nooooooossa,eu amei as fotos!! que legal ter tantas pra olhar, eu tenho pouquíssimas, em compensacao, lembro de quase tudo, olha, lembro de coisas com a idade de 3 ou 4 anos, qd ainda morávamos com papai, mas sabe? lembrar de mt coisa às vezes nao é mt bom, porque tem coisa que vc faria de td pra esquecer, mas nao dá :-(

achei tbm seus olhinhos tristes na foto mas desencana, talvez tenha sido só o momento. nao foi bruxa da madrinha, nao...

um bj!

Bel Alves disse...

esse olhar realmente era que um pânico, mas é linda!!!Deve ter sido triste tanto para você como para sua mãe,mas nada como o tempo para deixar para trás...Pois com suas amigas pode ver o outro lado...As fotos dizem tudo...Paz e bem

Renata Neris disse...

Oi, moça. Eu também tinha medo, mas nem sabia do que. Família me cobrava muito, mas apesar disso, tive uma infância maravilhosa ao lado dos meus irmãos. Obrigada pela confiança em compartilhar momentos delicados com suas colegas blogueiras. Bj

Anónimo disse...

Eu tbm tive uma amiga de infancia que não vejo desde aquela época.
Mas porque essa mulher amarga foi ser tua madrinha?
Eu não conheci nenhuma das minhas madrinhas, estranho isso.
Bjos e bom final de semana.

Lucinha disse...

Claudia,

Não me lembro bem qual a idade de minhas lembranças, mas eram foram muito boas. Muitas dificuldades finaceiras de meus pais, mas eramos muito felizes.
Chorei lendo o seu princípio do seu texto, mas é quando li no final que você está curada, meu coração se alegrou.
Perdoe, sempre. Isso só lhe fará bem.
Procure lembrar da Fatinha, da irmão querida, da mãe que tanto lhe amou e até do Vô João.
Essa blogagem mexe demais com o nosso emocional.rs De uma maneira positiva, claro.
Beijos

Isabel disse...

Às vezes penso nessa megera e em como tive sorte de já não a conhecer. Tenho pena que ela tenha infernizado a vida da mãe e a tua infância e espero sinceramente que já tenhas conseguido superar isso, infelizmente sei que a mãe nunca superará.
Mas isso são águas passadas que já não movem moinhos. Agora o que move os moinhos é o presente, a infância da tua pequenina, os novos caminhos que escolhemos traçar e os passos que damos para melhorar o futuro.
Adorei as fotos, aquela que estou ao teu colo é uma das minhas preferidas de sempre e também adoro a última porque estás com uma expressão feliz e revejo a Carolina naquele olhar.
Bjs

Zilda Santiago disse...

Excelente e elucidativa postagem Cláudia.Esta coletiva nos faz pensar e muito.Vou seguir o seu e espero-a no meu que está fazendo dois aninhos.Lá vc encontrará uma promoção para participar.Bjs carinhosos no coração.

Socorro Melo disse...

Olá, Claudia!

Muito emocionante o seu texto. A infância é, de fato, sinônimo de alegria,aprendizado, peraltices, no entanto, de coisas tristes também, às vezes. Que bom recordar, pois, só assim revivemos os nossos bons momentos.
Quantas fotos bonitas! Eu só tenho uma da infância, a da minha primeira eucaristia.

Um GRANDE abraço
Socorro Melo

Luma Rosa disse...

Tenho algumas fotos de quando era criança que estou com uma expressão parecida com a sua. A explicação de minha mãe é que os holofotes esquentavam e cegavam, tínhamos que olhar sistematicamente para a frente, sem piscar, o que o olho parecia lacrimejar! Depois ou durante uma sessão de fotos, eu sempre ficava febril! Ainda bem que estes sintomas não tenho mais - Criança sofre! Acabei de ler isso e acho que sim, temos nossos medinhos e encabulamentos!
Boa blogagem! Beijus,

chica disse...

Que legal teus depoimentos e até as recordações não tão boas, fazem parte.né:
Ainda bem que há as que te fazem bem!

Gostei de te ler! beijos,tudo de bom e adeus infância,srrs chica

Anónimo disse...

Olá Cláudia,

Puxa que infância heim!
Quanto a não se lembrar da sua infância dos 2 e 3 anos, não se preocupe, isto é normal.... eu mesma só me lembro a partir dos 5 anos minha vida, antes disto não me lembro mesmo.
E sua madrinha parece que deixou algumas "marcas" em você.
Mas não se prenda mesmo a sentimentos que somente te farão mal, o perdão é a cura para todos os males.
E procure mesmo sempre "puxar" da sua infância os momentos felizes, como este que você citou da sua forte e sincera amizade que já dura por muitos anos.
Isto sim sempre lhe fará um enorme bem.
Parabéns por sua participação, é um momento de grande união entre blogs.

Quero agradecer por suas palavras em meu espaço.
É muito bom quando encontramos pessoas que compartilham dos mesmos pensamentos e idéias.
Meu blog me deu uma oportunidade valiosa, de encontrar seres humanos Fantásticos aonde estou cultivando belas Amizades.
Espero que seja o início de mais uma bela Amizade!

Um grande beijo em seu coração!

Isabel de Matos disse...

Olá Claúdia, que texto bonito!

A expressão da foto até poderia ser porque estava desconfiada do fotógrafo, simplesmente... o meu filho gosta de posar para as fotos que lhe tiramos, mas foi uma dificuldade levá-lo para tirar uma foto tipo passe para o cartão de cidadão. Até podia ser! :)

Gostei de ter terminado com o seu bonito sonho. Um dos sonhos que fez acordar mais feliz até hoje, fui um em que me vi como um pequeno índio às cavalitas do seu pai índio e chefe que levava o seu filho para todo o lado; senti um prazer, uma segurança, uma sensação indescritível de ver o Mundo como um gigante (da altura de mais uns palmos que a altura do meu pai), de amor; foi tal o sonho que quando acordei tão feliz pensei:"não importa se penso que nesta vida às vezes não tive o meu pai tão presente, este pai índio é eterno e deu-me amor e segurança para toda a Vida, a partir de hoje só posso mesmo sentir-me sempre assim!!!

Muitos beijinhos, gostei de conhecer o seu blog através desta colectiva!
Isabel

Denise Carreiro disse...

Cláudia, vim te visitar pela blogagem coletiva. Fiquei impressionada com a história da sua madrinha. Ontem assisti uma palestra sobre o perdão e o palestrante dizia as doenças q desenvolvemos quando carregamos esse sentimento conosco. É difícil perdoar, mas se fizermos esse exercício diariamente, conseguiremos. E o q mais me impressionou na explanação dele, foi quando disse q através do sentimento de ódio e de mágoa, nos ligamos ao outro (isso é horrível). E mais, todo mal q fazemos fica impresso em nosso subconsciente e de alguma forma nos sentimos obrigados a refazer tudo o q fizemos de mal ao próximo.
Cláudia, mais do q os feitos dos homens, está o q Deus nos faz e a sua justiça. Muita paz!

Virginia Maria de Jesus Fassarella disse...

Aqui está você, graças à Deus. Tudo passa na vida, saiba que estou completamente solidária ao seu sofrimento passado. Pena que no mundo existem pessoas igual a sua madrinha. Viva a vida hoje, deixe a assombração no passado e seja feliz. Beijos.

Noémia disse...

Olá menina, adorei ver as tuas fotos da infância, que fofinha e gira que tu eras...e ainda és, claro! :)

RUTE disse...

A cabeça não pára mesmo.
Lembrei-me de algo:
Não queres participar connosco na Teia Ambiental? Já que estás de volta aos berloques...
Deixo o link da blogagem coletiva TA:
Teia Ambiental a todo o dia 7

É já no sábado, 7 MAI. Tema livre.
Beijinhos,
Rute