quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Mundo não se fez para pensarmos nele

 





O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...


O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...



Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema II"

3 comentários:

Ivani disse...

Lindo! já li algumas coisas de Caeiro, sempre perfeitas.
Que bom ter voce por aqui.
Demora mais quando vem, sempre traz coisas lindas.
Beijos Claudia, boa tarde para você.

Unknown disse...

Que bom ver-te por aqui e com um poema que adoro!
Vamos lá olhar o mundo e tentar não pensar nele, apenas admirá-lo e senti-lo! Tenho saudades vossas!

Beijocas a todos***

Ana Rita disse...

Gosto tanto desta poesia, li-a tanta vez :) "Sou um guardador de rebanhos...." :)

Beijinhos Cláudia**