segunda-feira, 30 de abril de 2012

Vida curta, prole numerosa


Pegando na postagem anterior, gostava de esclarecer um ponto: eu não tenho absolutamente nada contra as pessoas que têm muitos filhos. Pelo contrário, acho bonitas as famílias grandes, mas acho ainda mais bonito quando a mulher pode decidir quantos filhos quer ter.
No caso concreto que referi antes, o das rainhas, neste caso as portuguesas, elas não tinham escolha: era a sua obrigação terem filhos, muitos filhos, e de preferência filhos homens. Era essa praticamente a sua única missão na vida, deixar herdeiros que assegurassem a sucessão.
Pronto, era só isso que queria deixar claro. :)

Agora vou deixar aqui alguns exemplos de rainhas portuguesas (a esmagadora maioria rainhas por casamento) que de uma forma ou de outra se "sacrificaram" pelo Reino.



Primeira Dinastia - Dinastia de BORGONHA (iniciada em 1143)

Rainha D. Mafalda (segundo alguns historiadores, Matilde) teve 7 filhos de D. Afonso Henriques, o 1º Rei de Portugal.
Morreu com 31 anos (e ele com 76, tendo ainda mais 4 filhos ilegítimos*).
Rainha D. Dulce
Rainha D. Dulce, mulher do rei D. Sancho I, teve 11 filhos. Morreu com 46 anos.

Rainha D. Mécia, mulher de D. Sancho II, não teve filhos. Quando casou com o rei já era viúva. Esse facto, agravado por não ter tido filhos, fez com que não tivesse apoios nem da nobreza, nem do clero, nem do povo. O papa quis anular o casamento, alegadamente por parentesco em 4º grau, mas o mais provável é que fosse por pressões que havia de vários lados, por ela não ter tido descendência. O casamento acabou mesmo por ser anulado, sendo que D. Afonso III, irmão de D. Sancho II, foi o rei seguinte.

Rainha D. Beatriz casou com D. Afonso III. Teve apenas 3 filhos, mas em compensação o seu marido teve nada menos que 8 filhos ilegítimos com Matilde, Condessa de Bolonha.

Rainha (Santa) Isabel foi a mulher do rei D. Dinis. O casal teve apenas 2 filhos, mas, seguindo o exemplo do seu pai, D. Dinis teve 6 filhos fora do casamento, com uma tal D. Grácia. A Rainha Santa é que não deve ter achado "grácia" nenhuma.

Rainha D. Beatriz de Castela casou com o rei D. Afonso IV. Tiveram 7 filhos. D. Beatriz viveu até aos 65 anos, o que era invulgar na época, principalmente para uma mulher. No caso desta rainha, talvez o seu maior sacrifício tenha sido aturar o feitio irascível e sanguinário do marido.

Rainha D. Constança casou com o Rei D. Pedro I. Tiveram 3 filhos, embora só tenha sobrevivido o primeiro, D. Fernando. D. Pedro teve ainda 3 filhos (ou 4, existem várias versões)  com D. Inês de Castro e ainda mais um filho ilegítimo, D. João, que viria a ser o fundador da Dinastia de Avis (D. João I, Mestre de Avis). Parece que Constança morreu com trinta e poucos anos, não se sabe ao certo a sua data de nascimento.

Segunda  Dinastia - Dinastia de AVIS (início em 1385)

Rainha D. Filipa de Lencastre, mulher do rei D. João I. D. Filipa viveu até aos 55 anos e teve 8 filhos. D. João I ainda teve mais 2 filhos ilegítimos.

A Rainha D. Leonor, casada com o rei D. Duarte, teve 8 filhos e parece que morreu antes dos 35 anos. A D. Duarte se conhece 1 filho ilegítimo.

A Rainha D. Isabel de Lencastre, casada com o rei D. Afonso V, morreu com 23 anos, deixando 3 filhos. Apesar de D. Afonso V lhe ter sobrevivido ainda 25 anos, não se lhe conhecem filhos ilegítimos. De vez em quando lá havia um que se portava bem. :)

 D. Catarina da Áustria, rainha de Portugal
Rainha D. Catarina, casada com o rei D. João III, teve 9 filhos. D. Catarina chegou aos 70 anos, uma caso raro de longevidade na história dos reis e rainhas de Portugal. D. João II ainda teve mais 2 filhos fora do casamento.

Aqui a História de Portugal começa uma fase que viria a revelar-se desastrosa. O filho mais velho de D. Catarina e D. João III, também chamado João, morreu com 17 anos. Apesar disso, e uma vez que tinha casado aos 15 anos (!), já deixou um herdeiro,
D. Sebastião.

D. Sebastião veio a falecer na famosa batalha de Alcácer Quibir, com apenas 24 anos, e sem ter deixado descendência.
Esta situação veio trazer graves problemas à independência de Portugal, mas isso fica para outra ocasião...

Já na Terceira Dinastia - Dinastia FILIPINA (Portugal governado pelos Reis de Castela)

D. Margarida da Áustria, casada com o Rei D. Filipe II (Filipe III de Espanha), teve 8 filhos. Morreu aos 27 anos, alegadamente no parto do 8º filho.

Rainha D. Maria II de Portugal

A Rainha D. Maria II, a segunda rainha portuguesa a subir ao trono, viveu apenas 34 anos, mas mesmo assim conseguiu ser Rainha e ter 11 filhos. É obra! Casou com D. Augusto de Leuchtenberg, que só foi rei durante dois meses, pois faleceu a 28 de Março de 1835, estando casado com D. Maria desde 26 de Janeiro.
D. Maria II ficou portanto viúva aos 16 anos, vindo a casar no ano seguinte com  D. Fernando de Saxe-Coburgo.


* ilegítimos, segundo os conceitos da época, que assim consideravam qualquer filho nascido fora do casamento.

(Quanto ao túmulo de D. Pedro I, continua em lista de espera.)








sexta-feira, 27 de abril de 2012

Continuando o que estava começado...


As postagens têm sido poucas, mas em compensação as leituras têm sido muitas, principalmente de livros relacionados com a História de Portugal.
A participação na Blogagem Coletiva e a decisão de enveredar por temas da nossa História fizeram com que me embrenhasse totalmente nessa temática, que para mim tem sido viciante. Está tudo interligado, de uns acontecimentos passa-se para outros relacionados, e como o nosso passado enquanto Povo é tão rico, não me têm faltado bons livros para recordar e principalmente aprender muito sobre a História Lusa.

Na minha primeira participação na BCAP escolhi o romance de D, Pedro e D. Inês de Castro. No entanto, a continuação e conclusão da história ficou por revelar. E se bem que muitos a conheçam, achei melhor revelar aqui o desfecho, para fechar esse ciclo. Porque vem aí a Esperança, e o rumo vai ser outro.

Então, os acontecimentos desenrolaram-se assim:

D. Pedro casou com D. Constança, como estava previsto e combinado. Porém, em simultâneo com a chegada de Constança deu-se também a chegada de Inês, uma das suas damas de companhia. E, ao que parece, a atração de Pedro por ela foi quase imediata. É claro que o casamento continuou: o casamento era uma coisa, o amor era outra. Vieram os filhos do casal, e vieram também os rumores do relacionamento ilícito.
Inês de Castro era vista como uma ameaça à paz do reino, muito por culpa dos seus dois irmãos, que supostamente conspiravam e a influenciavam a aspirar a tornar-se esposa de D. Pedro.
O rei D. Afonso IV, pai de Pedro, tudo fez para os afastar. A dada altura, enviou-a para a Galiza, para que fosse viver junto de uma tia. E por lá ficou uns tempos, durante os quais os rumores foram abafados. Longe da vista, longe do coração, pensaria o rei, para sossegar o espírito.
Acontece que, por essa altura, a desafortunada D. Constança morre, vítima de complicações após um parto, o que era comum na época. Quase todas aquelas mulheres tinham como única missão na vida  parir filhos atrás uns dos outros, de preferência varões, para assegurar a sucessão, e algumas delas, com 27 ou 28 anos, já tinham dado ao reino uma dúzia de filhos, metade dos quais acabava por morrer antes de completar um ano de vida, morrendo as mães de pura exaustão.
Bom, mas isto foi um aparte.
Tentando abreviar, uns tempos depois da morte de Constança, Inês regressa a Portugal. Como seria de esperar, o relacionamento é retomado, e acabam por nascer quatro filhos, tendo um deles (Afonso) morrido muito cedo. Sobreviveram João, Dinis e Beatriz.
D. Afonso IV tentou que o filho voltasse a casar, não com Inês, naturalmente, mas sim com uma esposa que "estivesse à sua altura". D. Pedro sempre se recusou, agora que tinha recuperado o seu amor, não queria ouvir falar de mais nenhum matrimónio.
A situação vai-se arrastando, até que D. Afonso IV, farto de não ver o filho cumprir os seus desígnios, decide tomar medidas drásticas. Após conferenciar com os seus conselheiros de confiança, que concordavam com o rei acerca dos perigos que aquela união representava (principalmente agora com a presença de filhos que poderiam vir um dia a aspirar ao trono), decide pôr nas mãos desses homens  a resolução do problema.
E o problema foi resolvido com a morte de Inês, às mãos dos próprios conselheiros, aproveitando uma ausência de D. Pedro numa das suas habituais caçadas.

Naturalmente, D. Pedro reagiu muitíssimo mal a este desfecho, e logo jurou vingança, tendo entrado em violentos conflitos com o seu pai.
Logo que se achou Rei, D. Pedro legitimou os filhos, alegando que se tinha casado em segredo com D. Inês.
De seguida, ordenou a perseguição aos carrascos da sua amada. Não se sabe se será lenda ou não, mas consta que terá mandado arrancar o coração a dois deles, diante de si. O terceiro, que tinha fugido para França, acabou por ser perdoado.

Mais tarde, ordenou a construção de dois túmulos, um para Inês e outro para si próprio, no Mosteiro de Alcobaça, onde podem ainda ser vistos.
No túmulo de D. Inês, podemos vê-la coroada. Dizem alguns que essa coroação terá chegado a acontecer já depois da sua morte, dizendo-se até dela que é «aquela que depois de morta foi Rainha».


Túmulo de Inês de Castro
«Inês de Castro está representada com a expressão tranquila, rodeada por anjos e coroada de rainha. A mão direita toca na ponta do colar que lhe cai do peito e a mão esquerda, enluvada, segura a outra luva.
Os temas representados no túmulo são: nos frontais, a Infância de Cristo e a Paixão de Cristo e, nos faciais, o Calvário e o Juízo Final.
Neste túmulo salienta-se um dos faciais, que representa o Juízo Final. Pensa-se que D. Pedro, com a representação desta cena dramática da religião cristã, quis mostrar a todos (inclusive a seu pai e aos assassinos) que ele e Inês tinham um lugar no Paraíso e que quem os fizera sofrer tanto podia ter a certeza que iria entrar pela bocarra de Levitão representada no canto inferior direito do facial. Podemos observar também a figura de Cristo entronizado, e a Virgem e os Apóstolos que à sua direita rezam. Em baixo estão representados os mortos que se levantam das suas sepulturas para serem julgados.»
Fonte: Wikipédia
 
 
Bom, e como esta postagem já vai longa, fica a referência ao túmulo de D. Pedro I para outra ocasião, já que o mesmo também tem muito que se lhe diga.

domingo, 15 de abril de 2012

Desencanto - BCAP

 

 

Chegados à 2ª fase da BCAP, escolho D. Constança para simbolizar o DESENCANTO


Continuando na mesma história que referi na 1ª fase desta BC, o famoso caso de amor da História de Portugal, entre D. Pedro e D. Inês de Castro, e tendo em conta o triângulo Pedro-Inês-Constança, o quinhão do DESENCANTO vai sem dúvida para D. Constança.

Infanta castelhana, chega a Portugal em 1340 cheia de ilusões de um futuro feliz ao lado de D. Pedro, depois de anos de expectativa e angústia. Na verdade, antes de chegar a Portugal, já D. Constança tinha tido uma vida de sofrimento.

A vida desta mulher não foi nada fácil. Em 1325, quase uma criança ainda, com doze anos, é dada em casamento a D. Afonso XI de Castela. Devido à sua pouca idade, o casamento não se consuma, mas no papel ele já existe, para todos os efeitos legais D. Constança Manuel já é casada e portanto «rainha» de Castela.

Tudo indica que o inconstante e até maquiavélico Afonso XI tenha realizado este casamento já com o propósito de repudiar a noiva na primeira oportunidade. O casamento teve apenas como objectivo assegurar o apoio militar e político de D. João Manuel, pai de Constança, um dos mais importantes e influentes fidalgos castelhanos.

D. Afonso XI, aos dezoito anos, tornou pública a sua decisão de cancelar o casamento com D. Constança, então com catorze anos. Primeiro Desencanto.

«O casamento não passara de vil comédia para ludibriar D. João Manuel. (...) Soava a hora de libertar-se de compromissos tomados de má-fé. Repudiou a esposa, mas conservando-a em seu poder, como precioso refém. A que ontem era a rainha D. Constança transitou, por ordem do monarca, dos aposentos reais para a cela de um convento, onde ficou bem guardada.»(1)

D. João Manuel recebeu o recado de que, ao menor sinal de tentativa de resgatar a filha, esta seria degolada.

E eis D. Constança vivendo o seu primeiro DESENCANTO, às mãos deste maquiavélico rei. Mal ela sabia que outro maior ainda estava para vir…

Depois de anos de guerras e batalhas várias em Castela, e no meio de mais uma jogada política, é combinado o casamento de D. Constança com o infante D. Pedro de Portugal, filho do rei D. Afonso IV.

E, no ano de 1340, Constança chega a Portugal para desposar o futuro rei D. Pedro I. E o resto já se sabe: na mesma comitiva, e entre várias aias, chega também a Portugal D. Inês de Castro. Não passará muito tempo até que D. Pedro caia de amores por ela, e ela por ele. Conhecida pela sua beleza, pelos seus longos e fartos cabelos louros, pelos olhos verdes, e sobretudo pelo «colo de garça», não foi difícil que D. Pedro caísse no seu encantamento.

Pedro e Inês

E como normalmente na vida o bem de uns é o mal de outros, foi D. Constança que ficou mais uma vez presa nas teias do desencanto.

Duas vezes à beira de ser rainha, e duas vezes vítima do destino, atirada para uma vida de sofrimento.

«De intranquilidade eram feitos os dias de D. Constança, que sabia que, nos seus paços, o marido não se inibia de cortejar D. Inês de Castro. Quando a princesa teve o primeiro filho, em 1342, deu ao infante o nome de Luís. E para madrinha do recém-nascido convidou D. Inês de Castro, pretendendo desta forma travar aquela relação. Pela lei, pelo menos pela da Igreja, perante esta relação de parentesco não poderia ter qualquer relacionamento com D. Pedro I.

Foi pura ilusão, porque os encontros dos amantes continuaram.

D. Constança começou a ter problemas de saúde. Aliou-se a infelicidade tremenda de o filho D. Luís falecer em tenra idade. Teve ainda um segundo filho, Fernando, mas já não teve forças para o amamentar, e este foi criado por uma ama de sua confiança.

D. Constança passava os dias a meditar sobre a sua triste sorte. Em longas noites de Inverno, sentada junto à ampla lareira da torre, pensava muitas vezes em fazer peregrinação a Santiago de Compostela, para rogar protecção e paz para o seu ameaçado lar. Não chegou, porém, a realizar os seus sonhos.»(2)

A sua vida de desencanto terminou em 1349, após o nascimento da sua filha Maria.


Só aí terá conseguido alcançar a paz que não chegou a conhecer em vida.



(1) Inês de Castro na vida de D. Pedro (Mário Domingues)

(2) A Vida Louca dos Reis e Rainhas de Portugal (Orlando Leite, Raquel Oliveira e Sónia Trigueirão)


quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Mundo não se fez para pensarmos nele

 





O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...


O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...



Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema II"