domingo, 15 de abril de 2012

Desencanto - BCAP

 

 

Chegados à 2ª fase da BCAP, escolho D. Constança para simbolizar o DESENCANTO


Continuando na mesma história que referi na 1ª fase desta BC, o famoso caso de amor da História de Portugal, entre D. Pedro e D. Inês de Castro, e tendo em conta o triângulo Pedro-Inês-Constança, o quinhão do DESENCANTO vai sem dúvida para D. Constança.

Infanta castelhana, chega a Portugal em 1340 cheia de ilusões de um futuro feliz ao lado de D. Pedro, depois de anos de expectativa e angústia. Na verdade, antes de chegar a Portugal, já D. Constança tinha tido uma vida de sofrimento.

A vida desta mulher não foi nada fácil. Em 1325, quase uma criança ainda, com doze anos, é dada em casamento a D. Afonso XI de Castela. Devido à sua pouca idade, o casamento não se consuma, mas no papel ele já existe, para todos os efeitos legais D. Constança Manuel já é casada e portanto «rainha» de Castela.

Tudo indica que o inconstante e até maquiavélico Afonso XI tenha realizado este casamento já com o propósito de repudiar a noiva na primeira oportunidade. O casamento teve apenas como objectivo assegurar o apoio militar e político de D. João Manuel, pai de Constança, um dos mais importantes e influentes fidalgos castelhanos.

D. Afonso XI, aos dezoito anos, tornou pública a sua decisão de cancelar o casamento com D. Constança, então com catorze anos. Primeiro Desencanto.

«O casamento não passara de vil comédia para ludibriar D. João Manuel. (...) Soava a hora de libertar-se de compromissos tomados de má-fé. Repudiou a esposa, mas conservando-a em seu poder, como precioso refém. A que ontem era a rainha D. Constança transitou, por ordem do monarca, dos aposentos reais para a cela de um convento, onde ficou bem guardada.»(1)

D. João Manuel recebeu o recado de que, ao menor sinal de tentativa de resgatar a filha, esta seria degolada.

E eis D. Constança vivendo o seu primeiro DESENCANTO, às mãos deste maquiavélico rei. Mal ela sabia que outro maior ainda estava para vir…

Depois de anos de guerras e batalhas várias em Castela, e no meio de mais uma jogada política, é combinado o casamento de D. Constança com o infante D. Pedro de Portugal, filho do rei D. Afonso IV.

E, no ano de 1340, Constança chega a Portugal para desposar o futuro rei D. Pedro I. E o resto já se sabe: na mesma comitiva, e entre várias aias, chega também a Portugal D. Inês de Castro. Não passará muito tempo até que D. Pedro caia de amores por ela, e ela por ele. Conhecida pela sua beleza, pelos seus longos e fartos cabelos louros, pelos olhos verdes, e sobretudo pelo «colo de garça», não foi difícil que D. Pedro caísse no seu encantamento.

Pedro e Inês

E como normalmente na vida o bem de uns é o mal de outros, foi D. Constança que ficou mais uma vez presa nas teias do desencanto.

Duas vezes à beira de ser rainha, e duas vezes vítima do destino, atirada para uma vida de sofrimento.

«De intranquilidade eram feitos os dias de D. Constança, que sabia que, nos seus paços, o marido não se inibia de cortejar D. Inês de Castro. Quando a princesa teve o primeiro filho, em 1342, deu ao infante o nome de Luís. E para madrinha do recém-nascido convidou D. Inês de Castro, pretendendo desta forma travar aquela relação. Pela lei, pelo menos pela da Igreja, perante esta relação de parentesco não poderia ter qualquer relacionamento com D. Pedro I.

Foi pura ilusão, porque os encontros dos amantes continuaram.

D. Constança começou a ter problemas de saúde. Aliou-se a infelicidade tremenda de o filho D. Luís falecer em tenra idade. Teve ainda um segundo filho, Fernando, mas já não teve forças para o amamentar, e este foi criado por uma ama de sua confiança.

D. Constança passava os dias a meditar sobre a sua triste sorte. Em longas noites de Inverno, sentada junto à ampla lareira da torre, pensava muitas vezes em fazer peregrinação a Santiago de Compostela, para rogar protecção e paz para o seu ameaçado lar. Não chegou, porém, a realizar os seus sonhos.»(2)

A sua vida de desencanto terminou em 1349, após o nascimento da sua filha Maria.


Só aí terá conseguido alcançar a paz que não chegou a conhecer em vida.



(1) Inês de Castro na vida de D. Pedro (Mário Domingues)

(2) A Vida Louca dos Reis e Rainhas de Portugal (Orlando Leite, Raquel Oliveira e Sónia Trigueirão)


12 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida

"Tu és o orvalho que me beija"...
(Meliss)

Em pleno período pascal nos reencontramos para tecer o nosso Desencanto... entrelaçar partilhas de coração a coração...

Vc abordou um sub tema do Desencanto que ninguém ousou... assim tão explicitamente!!!
E o fez de maneira suntuosa com reis, rainhas, princesas...
Bem elegante o Desencanto ficou em seu post mas a dor a gente sabe que foi a mesma pois coração é tudo igual... Real ou não...
Os triângulos amorosos são mais comuns do que pensamos... está bem pertinho de nós...
Vencerá o Amor verdadeiro, a exemplo de outro Rei (bíblico, Salomão)... duas mães disputando um só filho... a verdadeira "cede"... porque ama... (deseja tão somente o BEM do outro)...

Obrigada por sua participação e nos vemos no próximo mês se Deus quiser!!!
Bjs de Paz e Esperança junto com o meu carinho fraterno

"Meu coração orvalhado
pleno de gratidão,
agradece a Deus"...
(Élys)

Lúcia Soares disse...

Cláudia, uma vida cheia de desencantos, com certeza.
Nunca o encantamento do amor puro e ingênuo que seu coração aguardava. Um jogo político de interesses que a condenaram à dor. Tenho minha simpatia por ela e mais uma vez vejo que os homens são criaturas egoístas, que primeiro pensam em seu bem estar.
Uma amante nunca é digna de admiração, então D. Inès de Castro não tem a minha! (sabe-se lá os desígnios do coração...).
Amor e desencanto parece que andam juntos, para a maioria das pessoas.
Muito bom conhecer mais da história de D. Constança, D. Pedro e Inês de Castro. Não nos cabe julgá-los, não apontemos o dedo, sabe-se lá o que sofreram também, os dois amantes.
Beijo e boa semana!

Elvira Carvalho disse...

Mais um pedaço da história de Pedro e Inês que é ao fim e ao cabo a história de Portugal.
Um abraço e uma boa semana

Calu Barros disse...

Claudia,
uma enorme dose de desencantos se abateu na vida da pobre D. Constança.Eu desconhecia este triângulo que vc apresentou tão detalhadamente.O amor tem razões que a própria razão desconhece.
Apreciei muito tua participação, pois a história é uma das minhas predileções.

OBS:agradeço o gentil e oportuno comentário lá no Fractais.O assunto dá tema para longas e preciosas conversas.
Bjos,
Calu

RUTE disse...

Bravo Claudia!
Estou a gostar muito do foco histórico na coletiva. Abordares as fases do amor analisando os padrões da história de Portugal é de se tirar o chapéu à tua participação.

Gosto de fios condutores a ligarem os vários pedaços. Eu escolhi os naipes das cartas e tu escolheste as figuras histórias. Que originalidade!
Beijinhos encantados, esperançosos de não vir a desencantar :)
(já viste a chamada para a 3ªfase?)
Rute

chica disse...

Além de bela tua participação, aprendemos mais da história por aqui! Pobre mulher essa,não? Um lindo dia, tudo de bom,chica

Lina disse...

Olá, Cláudia!Adorei tua participação!Não tinha pensado nesta faceta da história!Quando pensamos em Pedro e Inês, Constança fica totalmente ofuscada, coitada! Bravo! a teres resgatado da obscuridade, como deve ter sofrido!Ainda bem que hoje(pelo menos acho eu!)as masmorras de verdade não existam, embora aquelas que nós criamos às vezes são bem piores!
Estou a adorar participar desta coletiva contigo!
Beijinhos

Luma Rosa disse...

Que triste vida!!
Não conheço as particularidades da história da família real antes de chegar ao Brasil e para mim tudo que leio por aqui é novidade! Estou adorando!
Desculpe a demora em chegar ao seu blogue, estou atrasadinha para visitar os bloggers amigos e seguindo a ordem da lista e também por acontecer duas blogagens simultâneas estão me deixando doidins... :D Por falar em blogagem simultanea... você conhece o BookCrossing Blogueiro?
Beijus,

Felipa Monteverde disse...

Pois, coitada da D. Constança...
Eu não sabia a sua história, só se fala em Pedro e Inês e esquecem-se de mencionar a rainha ultrajada.
Gostei do seu blog, acho-o muito interessante, bj

Bel Freitas disse...

Oi Claudia!!!

Simplesmente ADOREI a sua participação na blogagem. Normalmente falamos sobre nós, na vida recente. E vc teve uma ideia perfeita. Não conhecia mto bem essa história, obr pela oportunidade de conhecê-la.
Ah... obr também pela visita ao meu blog, seja sempre bem vinda. Lá tem um espaço para divulgação d blogs amigos. Se quiser participar, ficarei mto feliz.
http://belblogandocomavida.blogspot.com.br/p/nossa-varanda-de-blogs.html

Bjs... :)

Ivani disse...

Olá Claudia, é impressionante como estudamos hostoria, nacional ou mundial, e nunca pensamos que esses nossos herois, ou bandidos, tambem eram pessoas.
E pessoas tem sentimentos, ciumes, dores, alegrias e tristezas.
Fantástico isso que voce faz, mostrando o lado de dentro das pessoas, os conflitos, amores, odios.
Muito bom, parabéns!
Quanto á "garapa", nada mais é do que caldo de cana.
A cana de açúcar espremida em um pequeno engenho que tira seu caldo.
Isso misturado com gelo, ou limão, ou abacaxi, é dos deuses.
Uma verdadeira delicia!
Venha até aqui para experimentar!
É uma bomba calórica, mas quem está preocupado com isso diante de um pastel bem fritinho e crocante?
O importante é ser feliz.
Beijos, bom final de semana.

espaço esplendoroso disse...

Que ótima participação, conhecendo e relembrando um pouco da nossa história. Os amores dos reis e rainhas... o triângulo amoroso, as dores o poder, o mais forte pisando no mais fraco, neste caso as mulheres. É uma grande história de vida Real. Bjs.