Mais uma fase da vida, mais uma etapa desta
Blogagem Colectiva, que me tem feito ir ao fundo do baú, por vezes remexer em velhos fantasmas, mas que, sinceramente, me tem ajudado a ver certas coisas com uma maior nitidez. Por isso quero agradecer às organizadoras, Rute, Gina e Orvalho do Céu. Tem sido uma experiência enriquecedora. Por vezes dolorosa, por fazer mexer em certas feridas, mas sempre com um balanço positivo.
«À medida que conquistamos a maturidade tornamo-nos mais jovens. Comigo passa-se isso mesmo, muito embora tal não queira dizer muito, pois mantive sempre o mesmo sentimento perante a vida desde os anos de rapaz; nunca deixei de encarar a minha vida adulta e o envelhecimento como uma espécie de comédia. »
Hermann Hesse, in 'Elogio da Velhice'
Maturidade é um conceito abstrato. Um jovem de 16 ou 17 anos pode mostrar maturidade, e um adulto pode ser imaturo até à velhice. Depende das circunstâncias, depende da personalidade, depende de factores externos ou internos, de um sem-número de situações.
Esta foi uma fase sobre a qual me custou começar a falar. Estou em plena maturidade, se fizer uma analogia com a fruta, quase posso dizer que estou a começar a ficar "tocada", ou seja, com algumas mossas, a "passar do ponto". Afinal de contas, já dizia André Gide:
'
"Como é que se vê que o fruto está maduro? Quando ele cai do ramo."
A maturidade pode ser o estado ideal (em alguns dicionários chega a ser sinónimo de perfeição), mas também precede a fase em que se começa a ficar maduro de mais...
Brincadeiras à parte, a minha pouca predisposição para falar sobre a maturidade, bem vistas as coisas, deve-se às minhas frustrações. Maturidade costuma ser sinónimo de estabilidade, segurança, equilíbrio, e a minha vida, presentemente, não tem nenhuma dessas características, muito pelo contrário. O que me rodeia é precisamente a instabilidade, a insegurança, a incerteza.
E depois lá vem a tal voz interior dizer-me (e com razão!): se tivesses feito isto ou aquilo de outra maneira, hoje a situação seria diferente.
Mas não vou carpir mais mágoas. Se por um lado tenho vontade de deitar tudo para fora, protestar, lamentar-me, por outro lado algo me impede de o fazer, fica uma sensação de estar a pôr a minha alma demasiado a nu, e também não me sinto confortável com isso.
Quando é que atingi a maturidade? Não sei. Sempre me lembro de mim muito madura, acho até que nunca fui imatura, isto no sentido de irresponsável, inconsequente. Mesmo na juventude sempre fui muito "atinadinha". Nunca fiz nenhuma grande loucura, apesar de ter feito muitas
pequenas loucuras, muitos disparates. Isto no tal sentido de coisas que deveria ter feito de outra maneira, sempre esse fantasma que me persegue. Admiro (e admiro-me com) as pessoas que dizem não se arrepender de nada que tenham feito na vida. Eu arrependo-me de tanta, mas tanta coisa! E não acho que isso seja totalmente negativo. Quer dizer, há um limite, é preciso ficar num equilíbrio. Por um lado, se nos arrependemos é porque reconhecemos o erro, e supostamente vamos aprender com ele (às vezes não...). Por outro lado, também sei que não é bom para ninguém ficar escravo desse sentimento, e passar a vida a lamentar-se do que se poderia ou deveria ter feito e não se fez, ou se fez da maneira errada. Enfim, como em tudo é preciso chegar ao equilíbrio, e neste momento da minha vida sinto-me mais desequilibrada, talvez por isso mesmo até esteja com dificuldade em expressar o que sinto, acho que isto está a sair um tanto ou quanto confuso... tal e qual como está a minha mioleira...
A minha maturidade, neste momento, está a ser um osso duro de roer. Vou ali fazer um retiro, resolver trezentos e cinquenta problemas, e já volto... talvez mais madura.