organizada pelas meninas
Rute
Orvalho do Céu
Gina
A primeira etapa foi o Nascimento, e naturalmente a segunda é a Infância.
Normalmente associa-se a infância à alegria, à "vontade de rir, pular, brincar", como lembrou a Rute no texto que escreveu com algumas sugestões para abordar esta fase. É verdade, infância deve ser sinónimo de alegria, e ainda bem que é assim. Ao recordar a infância, lamento que a minha memória não seja mais "eficaz", porque não tenho lembranças de mim muito pequena. A minha lembrança mais antiga situa-se já nos 7 anos, quando andava na 2ª classe. Lembro-me perfeitamente do meu professor, que foi o mesmo na 2ª, terceira e 4ª classes, mas não tenho a mais pequena ideia da professora da primeira classe. Será estranho? Não sei, talvez. Às vezes oiço pessoas contarem histórias de que supostamente se lembram, com 3, 4 anos... eu fico sempre espantada com isso, que raio de memória a minha. :)
Felizmente existem as fotografias, e tenho muitas de bebé e criança pequena, mas não me recordo de nenhuma situação, nem sequer do primeiro dia de aulas, de que tanta gente fala... apagão total!
Imagino-me em algumas histórias que a minha mãe conta, mas propriamente lembrar-me, isso não.
Ao reler o texto que a Rute escreveu a apresentar o tema «Infância», fiquei com um bocadinho de medo de mexer num certo armário, medo que lá bem escondidinho atrás dos casacos e vestidos, pudesse espreitar algum fantasma... mas decidi seguir o seu conselho, e colocar as sensações em primeiro plano!
Por exemplo, esta foto, da qual eu gosto muito, por outro lado assusta-me, porque vejo nela medo e insegurança, é uma foto que me seduz e por outro lado me perturba um pouco, não gosto de me rever naqueles olhos assustados, naquele meio-sorriso... e no entanto às vezes essa menina assustada reaparece, e continua com medo. Porquê?
Por muito que tente, não consigo dissociar a minha infância da imagem de uma pessoa que esteve sempre presente, a par dos meus pais e do "avô" João. Era a minha madrinha (e logo madrinha, uma figura que deve ser protectora), uma mulherzinha azeda e má, que infernizou a vida da minha mãe, e por consequência a minha. Esta criatura era patroa da minha mãe, e todas as memórias que tenho dela são de uma pessoa cruel, fria e desumana. As minhas memórias, junto com as histórias que a minha mãe não se cansa de contar, fazem com que essa pessoa se tenha tornado uma verdadeira assombração. A minha mãe, infelizmente, nunca se conseguiu libertar do ódio por essa senhora, o que só lhe faz mal (muito mal), tanto física como psicologicamente. Eu já lhe perdoei (acho eu, pelo menos tentei...) mas, como diz o ditado, "forgive but not forget". Já o "avô" João, o marido dela, era maravilhoso, um senhor muito querido, que até ficava contente quando eu brincava com ele, "penteando-lhe" a careca. A minha mãe ralhava comigo, e ele dizia "deixa lá a menina". Tadinho do avô João, mereceu o Céu só por aturar aquele megera. Ela, pelo contrário, aproveitava cada pretexto para atormentar todos ao seu redor, e algumas vezes eu "apanhei" por ela atazanar a cabeça à minha mãe, pondo-lhe os nervos em franja, até ao limite.
Mas agora chega, já estou a ficar mal-disposta de pensar nisso, que tal passar para a parte boa da minha infância? :)
Recordo muitas coisas boas, como a minha forte amizade com a Fatinha, que é a menina mais alta na foto do lado direito (tão fofinhas, de mãos dadas...). Éramos vizinhas e brincámos muito, durante pelo menos uns 5 ou 6 anos. Infelizmente hoje em dia não temos contacto, mas ainda não perdi a esperança de o retomar.
Recordo com um sorriso as brincadeiras nas escadas na Capela, com a Fatinha e a Ana (minha amiga até hoje), quando ainda se podia brincar "na rua" em segurança (embora com a supervisão dos pais da Fatinha, que tinham um "lugar" de fruta quase ao lado da Capela, e da minha mãe, pois morávamos em frente).
Aqui eu e a Ana (amigas há quase 40 anos, credo!!!), no Carnaval. Que figurinha!:)Depois veio a minha irmã, que foi sem dúvida a GRANDE alegria da minha infância. Com ela tudo ganhou um novo sentido, foi (e é) um amor muito grande, veio trazer uma luz que a minha infância não tinha, aquela "coisinha linda" foi um grande motivo de felicidade!
No dia do baptizado da minha irmã, tinha eu 8 anos. |
E quando é que acaba a infância? Naquele tempo ainda não se falava em pré-adolescência, mas aqui já era uma fase de transição. Já estava a ficar grandinha, andava no ciclo preparatório, em breve iria para o Liceu.
Com 11 anos. Adoro a camisola! :)) |
Adeus, infância, olá adolescência.