quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Em plena Pandemia


Que palavra tão feia e triste esta - PANDEMIA... 

Palavra que se tornou parte do nosso vocabulário e do nosso dia-a-dia, desde o início do ano de 2020. 

Uma vez que este blog está aos poucos a ressuscitar, e como de alguma maneira uma das suas funções é para mais tarde recordar, é inevitável falar da situação pela qual todos nós estamos a passar, está quase a fazer um ano... 

É um texto para ler com alívio quando isto tudo passar, o que neste momento nem se imagina quando será, porque estamos precisamente no auge da propagação, há vários dias seguidos que os números não param de aumentar. 

😥

COVID 19 - É este o nome da doença que já atingiu milhões de pessoas por todo o mundo, e que neste momento em Portugal está a atingir números altíssimos, que têm vindo a subir de dia para dia. Hoje, dia 28 de Janeiro de 2021, temos a lamentar a perda de mais 303 vidas para esta doença traiçoeira, este vírus com nome de coroa, que não se vê mas que tantos estragos está a provocar por esse mundo fora...  Coronavírus foi o nome que lhe deram, e há quase um ano que não tem dado tréguas à Humanidade. Perda do paladar e do olfacto, dores no corpo, mal-estar geral, febre alta, tosse persistente, dificuldade em respirar. 

Coronavírus


Desde o início da presença do vírus em Portugal, que aconteceu em Março de 2020, já se registaram mais de 685.000 casos de infecção. 

2020 foi aquele ano para esquecer. Pandemia, confinamento, comércio e serviços fechados, desemprego, economia a ir por água abaixo... 

Objectos novos passaram a fazer parte da nossa rotina: máscaras, viseiras, álcool, álcool-gel, desinfectantes de toda a ordem. 

Novos comportamentos tiveram que ser adoptados. Distanciamento social, etiqueta respiratória, lavagem frequente das mãos, desinfecção das mãos à entrada e saída de estabelecimentos comerciais. Aulas on-line.

Distanciamento, nada de contactos próximos, nada de beijos e abraços, a não ser àqueles mesmo mais chegados. Sob pena de estarmos a provocar uma situação potencialmente grave naqueles que amamos. Que tempos estes. 

Estado de emergência. Sucessivos estados de emergência.

A introdução de fatos de protecção fez-nos entrar num clima de ficção científica,  o pessoal da saúde mais parecendo a tripulação de alguma nave espacial. 


Imagens como esta passaram a fazer parte da normalidade. Hospitais quase em ruptura, sem conseguirem dar vazão a tantos casos. Neste momento, muitos atingiram o seu limite, não há mais camas disponíveis e já escasseia o pessoal médico para assistir tanta gente. É um cenário de quase catástrofe. 

Nos lares de idosos a situação também tem sido calamitosa. Largas centenas de infectados, muitas vítimas mortais. Os idosos são a presa favorita deste vírus. A debilidade do seu sistema imunitário é um campo fértil para o bicho se espalhar. 

Na altura em que escrevo, a situação está realmente negra. Neste momento, novamente em confinamento, estamos expectantes e apreensivos em relação ao futuro. São permanentemente postas em causa as decisões dos governantes, mas de facto chegue-se à frente quem julgue que é fácil lidar com um problema desta dimensão. Sejam quais forem as decisões, há sempre quem não esteja de acordo. 

Fecham-se as escolas. Metade da população aplaude e diz que já devia ter sido. A outra metade diz que não pode ser, as crianças não podem estar fechadas em casa, os danos psicológicos, e por aí fora... 

Fecham-se os restaurantes. Já devia ter sido, dizem uns. Não pode ser, dizem outros. Protestos, greves de fome, a economia não aguenta... 

Perante o crescimento descontrolado dos números, novo confinamento, fecha-se o comércio, serviços, quase tudo, em suma. Protestos, não pode ser, a economia não aguenta. Os outros: já devia ter sido, não devia ter havido tantas abébias no Natal, a culpa é do Costa😒 

A culpa é sempre do Costa... 😀

E depois há os negacionistas. Jesus, para estes é que não há mesmo paciência nenhuma. Que isto é tudo uma grande farsa, que a imprensa está a empolar o assunto, que morreu mais gente de gripe em anos anteriores... As teorias da conspiração. Nem vale a pena comentar. É infrutífero. 

Quando imagens como estas, a que assistimos diariamente (e que reflectem a luta constante dos profissionais de saúde tentando salvar vidas), não os convencem, não há muito a fazer. 



O que temos a fazer é ter uma enorme gratidão por estes profissionais que têm trabalhado até à exaustão, com turnos seguidos, sem descanso, sempre num cenário de emergência, dando tudo para tentar salvar o maior número possível de vidas. 

No entanto, há uma coisa que não se pode negar. À conta da COVID, e por causa do enorme número de profissionais de saúde destacados para esta doença, muitas outras enfermidades, algumas delas bastante graves também, acabaram por ser deixadas para segundo plano. Isto é uma verdade inquestionável, infelizmente. 

A dificuldade em conseguir uma consulta, o adiamento de exames e cirurgias, o atraso no diagnóstico de muitas doenças, tudo isto está também a ter um impacto muito negativo em muitas vidas. É necessário encontrar um equilíbrio entre a luta contra a COVID e a luta contra todas as outras doenças, que não deixaram de existir. 

No meio de tudo isto, surgiu a tão aguardada vacina. 

Ironicamente, em Portugal, quando se esperava que o milagre da vacina viesse acelerar o fim deste pesadelo, eis que, coincidentemente, os números começam a aumentar cada vez mais, de dia para dia. 

Neste momento, 18h55 do dia 20/01/2021, a situação é praticamente calamitosa. Veremos o que os próximos dias nos reservam, sem que possamos, apesar de tudo, perder a esperança. 

💚

Informação Útil: Como se transmite a doença? 

A COVID-19 transmite-se pessoa-a-pessoa por contacto próximo com pessoas infetadas pelo SARS-CoV-2 (transmissão direta), ou através do contacto com superfícies e objetos contaminados (transmissão indireta).

A transmissão por contacto próximo ocorre principalmente através de gotículas que contêm partículas virais que são libertadas pelo nariz ou boca de pessoas infetadas, quando tossem ou espirram, e que podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo.

As gotículas podem depositar-se nos objetos ou superfícies que rodeiam a pessoa infetada e, desta forma, infetar outras pessoas quando tocam com as mãos nestes objetos ou superfícies, tocando depois nos seus olhos, nariz ou boca.

Segue o link com toda a informação oficial fornecida pela Direcção-Geral de Saúde sobre a COVID - 19:  Direcção-Geral de Saúde 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

A ver o mar...

 A-Ver-o-Mar

é uma localidade costeira pertencente ao concelho de Póvoa de Varzim, cidade da região Norte de Portugal.


Não é tão bonito, este nome "A Ver o Mar" ? (nome que por sinal pode escrever-se de diversas formas diferentes, e que tão bem reflecte a sua condição de zona litoral).


Moinho Luisa Dacosta


Póvoa de Varzim é uma cidade balnear já com uma tradição de séculos. Possui 12 km ininterruptos de praias de areia dourada, formando enseadas divididas por rochedos, e conhecida por as suas águas serem ricas em iodo.




Póvoa de Varzim

Segundo documentação antiga, já em finais do séc. XVIII, monges beneditinos percorriam grandes distâncias para tomar os "banhos da Póboa", em busca do iodo, considerado vigorante, e cura para problemas de pele e ossos através de banhos de mar e sol.



Póvoa de Varzim é também uma cidade com uma forte tradição literária e cultural. Aqui nasceu o escritor Eça de Queirós.

Praça do Almada


Aqui decorrem frequentemente encontros de escritores e é uma cidade com uma vida cultural muito dinâmica.

E #casascompoesia ? Também existem por aqui, claro! Veja nas fotos, o centro histórico da Póvoa de Varzim está cheio de poesia. 🥰


Pelourinho 


Praça do Almada


Para se manter a par de toda a actividade do município, siga o site da Câmara Municipal e a página na CM da Póvoa de Varzim no Facebook.

🏠🏠🏠🏠🏠

E, caso tenha interesse em se mudar para esta região, mudar de casa, ou adquirir uma casa de férias, fale comigo. 😊



sábado, 23 de janeiro de 2021

Um Reino Maravilhoso - Parte II


E porque este Reino Maravilhoso é de facto de uma riqueza imensa, vamos continuar na mesma região transmontana, desta vez na zona de Peso da Régua, Mesão Frio... onde a poesia e a magia estão nas paisagens, no ar que se respira, e nas casas. 

Terrenos de cultivo de vinha


Que linda na sua simplicidade, a Capela de São Pedro, na localidade de Moura Morta, Peso da Régua. 



Continuamos à boleia de Miguel Torga, o meu poeta de ❤️ 

Partindo da inspiração do seu poema "São Leonardo de Galafura". 
Miradouro com vista privilegiada para o tal reino mágico:  



Miradouro de São Leonardo de Galafura


Miradouro de São Leonardo de Galafura

Sim, é preciso não esquecer a componente de magia que a palavra "maravilhoso" carrega. 
E o que dizer das casas desta região, inseridas nesta paisagem deslumbrante? 




Nem é preciso dizer muito. É só imaginar chegar à janela e deparar-se com estas imensidões de paisagem serrana a perder de vista. 


Quinta do Romezal

Quinta Dona Matilde



Biblioteca Municipal de Peso da Régua

Aldeia em Vila Marim, Mesão Frio

Com também disse Miguel Torga noutro poema, é estar com os pés na terra, mas conseguir tocar o céu! ❤️ 



 São Leonardo de Galafura 

À proa dum navio de penedos, 
A navegar num doce mar de mosto, 
Capitão no seu posto 
De comando, 
S. Leonardo vai sulcando 
As ondas 
Da eternidade, 
Sem pressa de chegar ao seu destino. 
Ancorado e feliz no cais humano, 
É num antecipado desengano 
Que ruma em direcção ao cais divino. 

Lá não terá socalcos 
Nem vinhedos 
Na menina dos olhos deslumbrados; 
Doiros desaguados 
Serão charcos de luz 
Envelhecida; 
Rasos, todos os montes 
Deixarão prolongar os horizontes 
Até onde se extinga a cor da vida. 

Por isso, é devagar que se aproxima 
Da bem-aventurança. 
É lentamente que o rabelo avança 
Debaixo dos seus pés de marinheiro. 
E cada hora a mais que gasta no caminho 
É um sorvo a mais de cheiro 
A terra e a rosmaninho! 

Miguel Torga❤️



🌳🌳🌳🌳🌳


Consultoria Imobiliária 











quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Um Reino Maravilhoso


Este é o mágico Reino Maravilhoso tão bem descrito por Miguel Torga, natural de São Martinho de Anta, Sabrosa, Vila Real (de Trás-os-Montes).

É esse o reino maravilhoso de que ele nos fala com tanta emoção.

A terra de maravilhas como as

Fisgas de Ermelo


a Serra do Marão


o Parque Natural do Alvão


as pequenas aldeias escondidas na serra... sem dúvida, um local mágico.

Aldeia de Varzigueto

Casas com Poesia

Também as casas são mágicas neste local. Desde a icónica Casa de Mateus




até às mais simples casinhas de granito, perdidas na serra, ou aglomeradas em aldeias seculares, todas elas têm uma beleza ímpar.

Aldeia de Bobal 

«Vou falar-lhes dum Reino Maravilhoso. Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração, depois, não hesite. Ora, o que pretendo mostrar, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não só existe, como é dos mais belos que se possam imaginar. Começa logo porque fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos. E quem namora ninhos cá de baixo, se realmente é rapaz e não tem medo das alturas, depois de trepar e atingir a crista do sonho, contempla a própria bem-aventurança.

Vê-se primeiro um mar de pedras. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus criador e dominador. Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto, a anunciar o começo duma grande hora. De repente, rasga a crosta do silêncio uma voz de franqueza desembainhada:

– Para cá do Marão, mandam os que cá estão!…
Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós?
Mas de nada vale interrogar o grande oceano megalítico, porque o nume invisível ordena:
– Entre!
A gente entra, e já está no Reino Maravilhoso.
A autoridade emana da força interior que cada qual traz do berço. Dum berço que oficialmente vai de Vila Real a Chaves, de Chaves a Bragança, de Bragança a Miranda, de Miranda a Régua.
Um mundo! Um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir ao céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contrição.
Terra-Quente e Terra-Fria. Léguas e léguas de chão raivoso, contorcido, queimado por um sol de fogo ou por um frio de neve. Serras sobrepostas a serras. Montanhas paralelas a montanhas. Nos intervalos, apertados entre os rios de água cristalina, cantantes, a matar a sede de tanta angústia. E de quando em quando, oásis da inquietação que fez tais rugas geológicas, um vale imenso, dum húmus puro, onde a vista descansa da agressão das penedias. Mas novamente o granito protesta. Novamente nos acorda para a força medular de tudo. E são outra vez serras, até perder de vista.
Não se vê por que maneira este solo é capaz de dar pão e vinho. Mas dá. Nas margens de um rio de oiro, crucificado entre o calor do céu que de cima o bebe e a sede do leito que de baixo o seca, erguem-se os muros do milagre. Em íngremes socalcos, varandins que nenhum palácio aveza, crescem as cepas como os manjericos às janelas. No Setembro, os homens deixam as eiras da Terra-Fria e descem, em rogas, a escadaria do lagar de xisto. Cantam, dançam e trabalham. Depois sobem. E daí a pouco há sol engarrafado a embebedar os quatro cantos do mundo.
A terra é a própria generosidade ao natural. Como num paraíso, basta estender a mão.
Bata-se a uma porta, rica ou pobre, e sempre a mesma voz confiada nos responde:
– Entre quem é! Sem ninguém perguntar mais nada, sem ninguém vir à janela espreitar, escancara-se a intimidade duma família inteira. O que é preciso agora é merecer a magnificência da dádiva.
Nos códigos e no catecismo o pecado de orgulho é dos piores. Talvez que os códigos e o catecismo tenham razão. Resta saber se haverá coisa mais bela nesta vida do que o puro dom de se olhar um estranho como se ele fosse um irmão bem-vindo, embora o preço da desilusão seja às vezes uma facada.
Dentro ou fora do seu dólmen (maneira que eu tenho de chamar aos buracos onde vive a maioria) estes homens não têm medo senão da pequenez. Medo de ficarem aquém do estalão por onde, desde que o mundo é mundo, se mede à hora da morte o tamanho de uma criatura.
Acossados pela necessidade e pelo amor da aventura emigram. Metem toda a quimera numa saca de retalhos, e lá vão eles. Os que ficam, cavam a vida inteira. E, quando se cansam, deitam-se no caixão com a serenidade de quem chega honradamente ao fim dum longo e trabalhoso dia.
O nome de Trasmontano, que quer dizer filho de Trás-os-Montes, pois assim se chama o Reino Maravilhoso de que vos falei.”

«Um Reino Maravilhoso»
MIGUEL TORGA

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Quinta em Mondim de Basto, Vila Real

Mondim de Basto

Decisões e Soluções 


quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Esta palavra SAUDADE...

 



No dia 1 deste mês deixou de estar presente fisicamente um dos maiores cantores da música portuguesa. Carlos do Carmo é quase unanimemente reconhecido como um dos melhores de sempre, com a sua voz inconfundível, a sua presença charmosa e afável, o verdadeiro cavalheiro. 

Pode parecer um lugar comum, mas a verdade é que, de facto esta voz nunca irá morrer. Ficam para sempre registadas as suas canções, os maravilhosos poemas que cantou, tantas letras que tantos de nós sabemos de cor. 

Felizmente foi muito homenageado em vida e o seu talento foi sobejamente reconhecido, tanto em Portugal como em outros países onde tiveram o privilégio de o ouvir. Porque se há situação inadmissível, é a pessoa só ser homenageada e celebrada depois de morrer. 

Quanto a mim, há muitos e muitos anos que o admirava e me encantava com as suas interpretações. E como o legado que Carlos do Carmo nos deixou foi imensamente rico, nada melhor do que deixar aqui algumas das suas interpretações. 

Estas são algumas das minhas preferidas. 

Gaivota

Lisboa, menina e moça 

Canoas do Tejo

Que grande voz, esta, que grande intérprete! Quanta riqueza deu às palavras, já belas, dos poemas que cantou, que conseguiram ganhar ainda mais beleza com a sua forma de as dizer. 

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Recordações

Recordar-se não é o mesmo que lembrar-se; não são de maneira nenhuma idênticos. A gente pode muito bem lembrar-se de um evento, rememorá-lo com todos os pormenores, sem por isso dele ter a recordação. A memória não é mais do que uma condição transitória da recordação: ela permite ao vivido que se apresente para consagrar a recordação. Esta distinção torna-se manifesta ao exame das diversas idades da vida. O velho perde a memória, que geralmente é de todas as faculdades a primeira a desaparecer. No entanto, o velho tem algo de poeta; a imaginação popular vê no velho um profeta, animado pelo espírito divino. Mas a recordação é a sua melhor força, a consolação que os sustenta, porque lhe dá a visão distante, a visão de poeta. Ao invés, o moço possui a memória em alto grau, usa dela com facilidade, mas falta-lhe o mínimo dom de se recordar. Em vez de dizer: «aprendido na mocidade, conservado na velhice», poderíamos propor: «memória na mocidade, recordação na velhice». Os óculos dos velhos são graduados para ver ao perto; mas o moço que tem de usar óculos, usa-os para ver ao longe; porque lhe falta o poder da recordação, que tem por efeito afastar, distanciar.

Soren Kierkegaard, in "O Banquete"